CAPÂO BONITO: UMA CIDADE MODERNA
No ano de 1990 fui morar na Alemanha e lá morei por quatro anos. Muito mais que o curso de pós-graduação, foram quatro anos de aprendizado em civilidade, em modernidade. Todos nós imaginamos que um país moderno e desenvolvido tem carros futuristas, computadores, tudo robotizado e cibernético. Mas não é bem isso. Apesar destes paises modernos dominarem tecnologias avançadas, é nos recursos públicos disponíveis e na consciência do cidadão que percebemos os traços que identificam aquilo que entendemos como modernidade.
Todos os alemães, mesmo os cirurgiões-chefes de unidades hospitalares ou gerentes de empresas, andam a pé ou utilizam transporte público. Qualquer estudante tem sua bicicleta e sabe consertar corrente e pneu furado. Todos os cidadãos cuidam do destino de cada pedacinho do lixo que produzem. Os recursos públicos de saúde e educação são extremamente eficazes, prestando serviço permanente e gratuito a cada cidadão.
Uma vez li em uma revista inglesa, nos anos 90, que se o Brasil modernizasse as relações de trabalho, na época ainda precárias, estaria modernizando a economia como um todo. De fato, hoje podemos afirmar que um dos pontos mais amadurecidos no Brasil dos últimos 12 anos é o da conquista da classe trabalhadora e estabilização de nossa moeda – curiosamente um dependente do outro. Ou seja, fica claro que modernizar a economia é o mesmo que promover reformas sociais e de trabalho.
É por esse motivo que escrevo o título desta matéria. Ocorreu na quarta feira passada a 1a Conferência Municipal de Saúde Alimentar e Nutricional com o enfoque “Ameaças, avanços e perspectivas para efetivação do direito humano à alimentação adequada e saúdável”. Apresentei a proposta de Alimentação Viva junto ao Programa de Saúde da Família. seguido pela nossa nutricionista Dra. Maria Lúcia, trazendo os desafios da merenda escolar e pela nutricionista Dra. Renata Cintra, falando sobre a ciência dos alimentos. As três apresentações se sucederam, e estávamos com o auditório da assembléia legislativa cheio. As fisioterapeutas Juanita e Rosana Baia conduziram um alongamento, ralaxando e preparando todos os presentes para a segunda fase.
Dr. Fabrício Olivati, nosso secretário de saúde, junto com a enfermeira Fabíola Kawai (vigilância sanitária) e a agronoma Paula, da Unesp de Botucatu conduziram a seguir uma mesa redonda, na qual nós apresentadores responderíamos aos questionamentos da platéia. O que se seguiu foi um verdadeiro debate, no qual o principal personagem foi o público presente ao evento.
Todas as perguntas eram atuais e procedentes. Temas como o dos agrotóxicos, pequenos produtores rurais e produção orgânica, alimentação infantil e escolar, mudança cultural alimentar e atuação dos sistemas públicos na otimização destas propostas circularam e foram debatidos pela mesa.
Muito mais que isso, foram transformados em um documento, que vai ser conduzido ao poder executivo de nossa moderna Capão Bonito. Uma cidade composta por cidadãos informados, que contestam, indagam e procuram cada vez mais tomar posse dos fatos que determinam seus destinos e a saúde de nossas famílias e crianças..
Parabéns a todos pela demonstração de modernidade vista em nossa assembléia.
Alberto P. Gonzalez, médico
www.doutoralberto.com