NATAL EM FAMILIA
“Querido Papai Noel, esse ano eu não preciso de presentes. Tudo o que eu quero é ter a minha familia reunida no Natal”.
Mariah escreveu essa cartinha e pediu que a enviasse ao endereço do Papai Noel. Calhou dela “cair” nas mãos da mamãe antes de tomar a direção do destinatário, e o desafio estava lançado. Ciente da carta, desobedeci ao primeiro pedido, pois é muito bom comprar presentes para uma filha querida.
Mas como efetivar o segundo pedido? Embora sejamos amigos, eu e a mãe dela estamos separados há quatro anos. Ela está recém iniciando um relacionamento. Eu me casei com a Maya, tive a Gabriela. Ou seja, pai e mãe originais e uma meia irmãzinha já estavam garantidos. Com Mariah já aqui, aguardávamos o casal do Rio.
E os avós? Minha mãe deixou este plano há sete anos. Meu pai está muito doente em Brasília, morando com minha irmã. Meus outros irmãos tocam suas vidas em outras cidades e estados. Ou seja, família reunida, só na imaginação!
O pai da Maya, separado dela quando ela contava com apenas três anos, uma história triste que foi resgatada, reencontrou a filha 30 anos depois! Então podíamos contar com um vovô ainda jovem, calmo, bonzinho e atencioso. O Marcos já está hospedado conosco há um mês.
Bem, já tínhamos os protagonistas do Natal “em família” que a Mariah tanto anelava.
Janaína, a mãe da Mariah e o namorado viajaram os 800 km que nos separam do Rio. Gabriela, minha caçulinha, irmãzinha por parte de pai, já estava convivendo e brincando muito com a irmã, chamando-a de “Maiá”.
Mas nossos convidados seriam, por assim dizer, “ilustres desconhecidos”. Como criar um clima de família? Passei a tarde arrumando a sala, ajeitando a árvore de Natal, mudando alguns móveis de lugar e preparando uma ferramenta, que acabou por ser a estrela da festa: liguei o computador no YouTube e joguei para o monitor de TV. Poder-se-ia assim acessar qualquer música, cantada por intérpretes famosos ou não. Dessa maneira desafiaria os convidados a escolher uma música e dedicar a um dos presentes.
O casal carioca chegou com um empadão de palmito. A gente já tinha salada, suco de uva e arroz. A mesa de jantar para estava muito bonita, pronta para receber o convidado mais especial, o Nazareno.
Eu dediquei a música da “Baratinha” para a Gabriela, que dançou muito, a “Aquarela” de Toquinho para a Mariah, que acompanhou com a flauta doce e “É Primavera” do Tim Maia para a querida Maya. Ela por sua vez dedicou uma linda música para seu pai. Foram várias outras músicas, dedicadas com amor, de alguém para alguém. Criou-se um clima ameno e, com luzes suaves, chegamos ao fim desta linda noite, abrindo os presentes.
Havíamos atendido ao pedido de Mariah! Papai, mamãe, um avô que não é de sangue, que não se via há trinta anos, uma irmãzinha que chegou há pouco, a companheira do pai e o companheiro da mãe. Uma família diferente, porém unida por um laço invisível, havia habitado aquela sala, para festejar o nascimento de Jesus.
O Anjo do Amor visitou nossa casa. Ficou clara a percepção que somos todos uma grande família humana, todos filhos do mesmo Pai e da mesma Mãe.
Às oito da manhã, já estava Mariah dentro do carro, voltando para o Rio. Enquanto o carro subia a Rua Coronel Ernestino, eu acenava até que se perdesse de vista. Gabriela, agarrada à grade do portão se divertia com a cena e dizia “tsau, tsau”.
Um senhor de cabelos brancos passava pela rua, viu a graça da menininha e passou-lhe a mão na cabecinha, dizendo “Feliz Natal”, ao que ela respondeu: “Vovô?”.