RIO + 20 + 40 + 60
Nenhuma cidade representa tanto o Brasil como o Rio de Janeiro. Nos próximos dias e depois disso, meses e até anos, os olhos do mundo estarão voltados para o Rio e para o Brasil. Mas o que nós, cariocas e brasileiros estamos fazendo?
Ao nos dispormos a ser sede da reunião de cúpula mundial sobre o meio ambiente nos tornamos assim como um aniversariante que chama seus convidados para uma casa que está sem vaso sanitário, cheia de lixo ao redor, com uma cozinha que enche de fumaça a sala e ainda, com todos os vizinhos, muito pobres, avançando sobre a mesa e levando o bolo da festa.
O Brasil ainda tem muito a resolver, e não são condições simples assim. Mais uma vez são as corporações dominantes e interesses congressistas que determinam o que acontece no nosso meio ambiente. Há poucas semanas já tinhamos um código florestal vergonhoso, adotado após votações igualmente vergonhosas por um congresso manipulado pela Monsanto, DuPont e Dow Chemical e sua testa de ferro, a bancada ruralista brasileira. Com o veto parcial da presidenta, nos resta aguardar o retorno ao tão famoso congresso nacional.
O Brasil é o maior consumidor de venenos agrícolas do planeta, com a distribuição per capita atualizada chegando a 8,9 litros de veneno por brasileiro. Florestas são devastadas para produzir soja para alimentar porcos na Dinamarca. Nossos minérios e nosso equilíbrio mineral, incluindo a frágil camada pré-sal são bombeados e dragados como um parasita destroi uma fruta. Tudo é enviado em navios para a China e outros destinos.
Ao mesmo tempo, a expulsão dos pequenos produtores e famílias do compo, a verticalização das metropoles e o aumento da população urbana de baixa renda e de periferia determina uma devastação dos recursos hídricos, com poluição por lixo, venenos químicos e dejetos fecais contaminantes.
A vida na terra não está ameaçada, pois as bactérias, os fungos e os insetos vão continuar, mesmo que derretamos as calotas polares, como gelo no suco, mesmo que rompamos com toda a camada de ozônio da atmosfera. O que está ameaçada é a vida humana. Estamos desequilibrando as condições que mantém a vida humana no planeta e colocando em risco a nossa própria espécie. Há 8.000 anos atrás dizia Zaratrustra, na antiga Pérsia: se o homem desafiar a natureza, esta mesma natureza o destruirá.
Por incrível que pareça, os destruidores do planeta, repito – as corporações – que produzem automóveis como palitos de fósforo, devastam cerrados e florestas como brinquedos de criança ou despejam venenos em todo o pais com a mesma facilidade que regamos um jardim, estes sim nem se importam com o resultado, pois o que lhes interessa é o dinheiro. E o que farão eles com o dinheiro? Construirão muralhas para proteger-se de terremotos, tsunamis e erupções?
Por isso escrevo este texto batendo sempre na mesma tecla. Nós, anfitriões da festa ecológica, tupiniquins modernos de celular, é que temos que mudar estas coisas por iniciativa própria. É nossa diversidade racial, cultural e natural brasileira que resulta nesta criatividade que não tem fim que pode mudar o atual estado de emergência.
Cuidando do que comemos, refletindo como aquele alimento chegou até nós, quanta devastação provocou, quanto lixo ele produziu. Se pudermos usar uma bicicleta, às vezes pelo menos Se pudermos usar metrô e ônibus, para uso urbano ou viajar, se pudermos formar uma massa crítica que exija do governo e de sua riqueza mais trilhos, mais bondes, metrôs e ferrovias modernos.
Enquanto ficamos de braços cruzados, assistindo televisão, os inimigos do verde assombram o ar. Os que lucram com a devastação de nossas florestas, com a produção de toneladas de lixo e da poluição de nossos recursos hídricos estarão agindo em nome da única coisa que lhes interessa.